terça-feira, 7 de outubro de 2008

O QUE É O SUCESSO - POR ANDERSON FOCA



Texto interessante do Boy Foca
Conteúdo: Editorial Dosol

Foto: Palco do Centro Cultural Dosol por Cora.

Voltamos com o nosso prometido editorial sempre às segundas com algum assunto de interesse da comunidade roquística brasileira que visita nosso portal. Hoje vamos reverberar uma grande discussão que vem acontecendo na lista Nordeste Independente, da qual faço parte há uns bons três anos. O assunto é sucesso, ascenção dentro da música, dinheiro e afins. Assunto espinhoso que leva a várias interpretações e aqui daremos a nossa.

Ainda fico impressionado como muitas pessoas acham que fazer sucesso é ficar famoso e ser uma celebridade da televisão. Claro que para o ego é muito bom ser reconhecido em qualquer instância, mas será que ser reconhecido por um trabalho sem qualquer valor artístico ou relevância cultural vale a pena? Acho que não. Muitas bandas que eu conheço, principalmente as que não dominam muito os caminhos da cena independente (real) ainda tem esse sonho estampado na cara. Querem a tríade produtor/gravadora/fama, como se isso fosse dar lastro para uma carreira artística.

Claro que ganhar dinheiro e ficar rico é muto bom, mas porque não tentar fazer isso trabalhando em algo sólido e consistente. Se abraçar num processo incerto, não duradouro, longe das suas verdadeiras raízes e muitas vezes até danoso a saúde não é uma escolha muito inteligente. Posso dizer que vivo melhor hoje fazendo o que eu faço do que muitos artistas que tiveram sucessos efêmeros, tocaram em grandes festivais mainstream mas que ficaram fora do mercado e não conseguiram mais trilhar novos caminhos, pelo simples fato de que não aprenderam a fazer nada a não ser tocar e compor músicas para tocar na novela. Quem tem carreira sólida e um bom caminho independente pode até ter uma música na novela - não há definitivamente nada errado nisso - mas não acaba em programa de televisão pedindo esmola paganda de artista falido. já ouviram falar no Pato Fu e na Pepê e Neném? Compare…

Que fique claro. Já tive os meus devaneios de adolescente (e quem nâo os teve?). Mas como resolvi só viver de música e para a música fui encontrando meu caminho. Alguns podem dizer que falo isso porque não tive oportunidade de ter um contrato e buscar a fama efêmera. Não é verdade. Já tive a chance de escolher o que eu queria.

O ano foi 2002, após tocarmos numa edição do MADA recebemos um contato telefônico com uma gravadora interessada em produzir meu grupo na época, uma banda chamada Officina, que tinha uma carreira baseada em covers para tocar na noite e formar alguma platéia e dois discos de música autoral. Recebemos o cara, lemos o contrato da gravadora (que era uma major) e fizemos uma reunião em que definimos não querer aquela proposta. Ela nos tiraria de perto do que construimos, nos levaria a um salto incerto, não escolheríamos nosso repertório nem o produtor do nosso disco e passaríamos os próximos 5 anos amarrados ao tal contrato com uma multa recisória estratosférica.

Pensem bem. Até o ano passado eu não poderia gravar quase cem músicas que registrei desse período até agora, não conheceria mais de 15 estados dos quais toquei nesse tempo, não teria Allface, Sinks, Camarones Orquestra Guitarrística, Dosol, Centro Cultural Dosol, Festival Dosol e por aí vai. Uma banda que conhecemos na época e que assinou esse mesmo contrato não existe mais desde 2003 e a gravadora obrigou-os a gravar um cover de uma música do forró cearense em versão rock chamada “A Rural vai atolar - arruma a mala aê”. Não trocaria o que EU construi pelo o que os OUTROS PODERIAM contruir pro meu futuro. Uma escolha inteligente!

Claro que ninguém aqui tá fazendo uma ode a falta de ambição ou pedindo voto de pobreza aos músicos do país. O que queremos deixar claro é que um crescimento consistente e planejado pode dar muito mais frutos do que essa árdua procura de ser celebridade. Precisamos de força de trabalho e de choque de realidade, o resto ou é hipocrisia de quem não conhece como as coisas funcionam (ou finge não conhecer para se aproveitar) ou sonho infantil de quem planeja muito e age pouco. Sobre a pergunta do título do editorial, responda você nos comentários: o que é sucesso?

Quem quer moleza que vá sentar em canjica!

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