terça-feira, 16 de dezembro de 2008

RESENHA DE CDS - VITROLA "CONTINUO A RODAR"


Por Alexis Peixoto - O Inimigo.com

Por mais que carregue limites estéticos bem delineados, às vezes uma banda - isto é, uma boa banda - se vê diante de um impasse um tanto cruel, ainda que necessário a sua sobrevivência. Manter a linha editorial que a consagrou e continuar em segurança com audiência garantida ou dar um passo a frente, sob risco de perder o “estilo” original e, de quebra, alguns fãs? Difícil, mas se fosse eu o juiz num caso desses, diria que a segunda opção, desde que fundamentada em boas intenções, é sempre a mais acertada.

No caso de uma banda nova e sem tanto a perder como o Vitrola, chega a ser perda de tempo gastar neurônios debatendo a questão. Em seu segundo disco, Continuo a Rodar (Xubba Musik), o trio parece considerar seriamente a possibilidade de quebrar molde de roqueiro da década de 50 no qual eles próprios se colocaram em proto-hits da Ribeira como “Rock da Madrugada” e “Baby (Não Me Deixe Só)”. Apesar das boas idéias e das rotas de fuga bem definidas, a idéia ainda fica no quase.

Levando a sério o próprio nome, o Vitrola parece ter pensado o álbum como um disco de vinil, com lado A e B. Metade de Continuo a Rodar é composto por canções calcadas no trinômio garotas, bailes e diversão, tema mais comumente associado à banda e onipresente na estréia, Rock, Tesão e Outros Vícios (2007). São babys, pequenas e gatinhas que habitam uma festa imaginária e interminável, onde o assunto principal das rodas de conversa é o rock’n roll que toca ao fundo. A outra metade (ou “lado”) é reservada para as novas ambições da banda, que desacelera os riffs e cai de boca no country e no hard rock.

“By Your Side (Vitrola & Os Forasteiros)”, faixa de abertura do disco, saudável evocação do ectoplasma de Gram Parsons, deixa entrever que nem de só de Chuck Berry vive a coleção de discos dos caras. A verve country-folk ainda aparece em “Pequena Garota” (com belo slide de Rafael “Coração” Prado, também produtor do disco) e na faixa título, onde há espaço para uma lisergia discreta nas guitarras e nos vocais. A maior ruptura com repertório antigo aparece bem na marca do pênalti, com a pesada “Seu Desespero”. De riff econômico e circular, a faixa parece apontar para uma direção ainda mais ousada que as anteriores, ainda que abuse dos backing-vocals em côro, muleta que a banda ainda não percebeu que pode viver sem.

Curiosamente, as faixas nas quais a banda se arrisca mais aparecem primeiro na ordem do CD, dando a entender que a mudança pode vir a se concretizar de forma mais presente num futuro não tão distante. Mesmo em momentos menos interessantes como “Ando Só” e “Sentir Bem” o Vitrola parece disposto a pendurar a jaqueta de couro e alterar a rotação da velha bolacha. O próximo disco pode ser decisivo.

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