Por Victor Azevedo
“O melhor festival de rock pra roqueiro que existe“, sentenciou Fabrício Nobre logo no começo do show do MQN, ontem à noite. A frase, por mais simplória que pareça, define muito bem o espírito da primeira noite do Festival DoSol 2008, uma orgia de rock’n'roll alto, de qualidade e ininterrupto.
Essa noite, além de reunir o melhor da cena de rock independente atual, foi marcada pelo vigor dos shows, pela reconfiguração do espaço e da estrutura do Festival, e por isso já pôde ser considerada histórica, mesmo antes de terminar o festival.
O sol nem pensava em se pôr quando o The Rock Rovers(RN) subiu ao palco. O power trio destilou seu punk rock alcoólico para um público pequeno, que acabava de chegar à Ribeira. O som dos meninos lembra um Rock Rocket menos bêbado e esporrento. Muita diversão, mas falta experiência.
Logo em seguida, foi a vez do Fewell(RN) apresentar seu hardcore melódico pra galera. Com um show certeiro, a banda mostrou que Natal está bem representada nesse estilo tão em voga atualmente. Bonés, franjas e piercings labiais povoaram a apresentação dos caras.
Já era noite quando os Lunares(RN) deram as caras. Muita melodia, letras inspiradas, dramaticidade e até uma valsa com a guitarra marcaram o show dos natalenses mais britânicos que existem. A banda vem conquistando fãs com sua sonoridade pop influenciada por U2 e Coldplay. Prenderam a atenção do público com suas composições climáticas e fizeram um belo show. Destaque para Rodrigo “tirando a guitarra para uma dança” no decorrer de “Dance, Dance, Dance”, indiscutivelmente o maior hit dos Lunares.
Muita brasilidade, nordestinidade, cultura popular e som pesado no show da Rosa de Pedra(RN). A apresentação da banda ajudou a provar que a programação do DoSol também prioriza a diversidade da música independente. Com seu ritmo regional envenenado, o grupo botou todo mundo pra dançar coco, maracatu, ciranda e louvar os orixás, num grande ritual profano regido pela percussão, rabeca e guitarras pesadas. A vocalista Ângela Castro se declarou muito feliz em subir no palco do DoSol e poder mostrar a faceta roqueira da Rosa de Pedra.
Vindos de João Pessoa-PB, o Star 61 encheu o palco do Centro Cultural DoSol, de plumas, paetês, batom vermelho e strip-tease. O vocalista Flaviano André, uma figura mista de David Bowie, Lacraia e Beetlejuice, fez a audiência ir à loucura com sua performance energética. Os paraibanos, velhos conhecidos de palcos natalenses,vieram cheios de novidades, como a impagável “Abro A Porta Nua”, que contou com o coro da galera. Compondo o repertório, ainda executaram uma versão turbinada de “Conga, Conga, Conga” e ” I Wanna Be Your Dog” de Iggy e Stooges. De longe, o show mais divertido da noite.
Mais uma prata da casa, Camarones Orquestra Guitarrística(RN) prova que a cena roqueira de Natal está mais viva do que nunca. Exageros à parte, a orquestra de guitarras moeu os ouvidos do público com riffs que não perdiam o vigor em momento algum. Formada por integrantes do Calistoga, The Sinks e outras bandas, os Camarones apresentaram seu instrumental multi-referencial, deixando todo mundo boquiaberto ao ouvir na mesma música, um reggae virar uma progressão de viagens floydianas, para dar um exemplo. Entre rockabillies e hard rocks, o clima de nostalgia ficou por conta da execução das trilhas de Popeye, Jetsons e outros ícones da infância em ritmo de rock’n'roll. A música “Pra Inglês Ver” foi o ponto alto da apresentação. Longa vida aos Camarones.
Ironicamente, o Barbiekill(RN) foi quem abriu a primeira sessão de moshs do festival. Com seu som calcado no electrorock e new wave, a banda levou parte do público à esbórnia abusando de programações, batidões e dirty-talking. O grupo vem amadurecendo, investindo timidamente em uma sonoridade mais punk. Apesar do ganho de qualidade, o Barbiekill já fez apresentações melhores em outras ocasiões. Provocou, mas não manteve o ritmo até o fim. “I Don’t Think So”, há quem discorde. Hora de uma cerveja gelada.
A banda do anfitrião Anderson Foca subiu ao palco com sede de rock. The Sinks(RN) encerrou magistralmente a sessão potiguar da primeira noite do Festival. Do começo ao fim do show, as rodas de pogo não cessaram. O power trio mandou ver em canções como “Let You Down” e “Ignored”, berradas em coro com o público. Chuck Hipolitho do Forgotten Boys, fez uma participação especial tocando duas músicas com a banda, cujo último álbum fora produzido por ele. Um dos shows mais legais da noite. Mostraram porque o The Sinks é uma das bandas mais sólidas e produtivas do rock natalense.
Chamados de última hora para substituir Terminal Guadalupe(PR), os caras do Macaco Bong(MT), hipnotizaram(sic) a platéia do Centro Cultural DoSol. A virtuosidade dos integrantes fez com que todos ficassem abobalhados. Não é sacrilégio dizer que a semelhança entre o guitarrista Kayapi e Jimi Hendrix ultrapassa a aparência física. Lançando o novo álbum, “Artista Igual Pedreiro”, o Macaco Bong foi responsável pelo maior concurso espontâneo de air guitar que já presenciei. Muitas punhetações de guitarra, solos viajantes, diálogos instrumentais e improviso durante a apresentação dos caras.
Chega a hora de um dos shows mais esperados do festival, MQN(GO). A banda pôs fogo no Armazém Hall e o inferno, naquele instante, era o melhor lugar do mundo. O rock horror show tomou conta do Armazém. Fabrício Nobre e sua trupe encarnaram o demônio e tocaram o rock mais duro da noite, uma pancada na orelha. Foi uma apresentação explosiva, “o melhor show do ano” como fez questão de afirmar Fabrício, prontamente assentido pelo público. A histórica banda, mais de dez anos de carreira, fez o melhor show da noite, e, sem exageros, o melhor show de todas as edições do festival DoSol, com direito a platéia cantando no fim, o que resultou num bis emocionado e tudo mais. Hey, Hey, Hey Now!!!!
O AMP(PE) deu prosseguimento ao rolo compressor que foi o show do MQN. Muito mais rock duro e pesado com sotaque pernambucano para o público que ocupou o DoSol. Ensurdecendo todo mundo, os caras contaram com a participação do onipresente Fabrício Nobre, que revelou ser fã da banda. Ao fim de “Togheter”, a banda era ovacionada com dedos em riste e cabeleiras desgrenhadas. Rock’n'roll em sua essência. E a galera saiu da frente do palco com um sorriso besta no rosto e os ouvidos zunindo.
O Forgotten Boys(SP) lançava seu novo álbum “Louva a Deus”, e eram esperados com grande expectativa. O show começou com canções novas intercaladas aos antigos hits da banda e manteve seu vigor durante um bom tempo. Mas o ritmo da apresentação foi decaindo e ao final, restou um show morno, irregular. O grupo já fez apresentações bem mais energéticas que a de ontem. Foi bom, mas esperava-se mais.
De Goiânia, vem a Black Drawing Chalks(GO) com mais hard/stoner rock pra encher de orgulho quem estava no Festival. Fizeram um som cru, dançante, com inegável influência dos diabos veteranos do MQN. Um show bastante animado, sem perder o nível em hora nenhuma. Ótima revelação.
Era chegada a hora de se apertar na frente do palco pra ver de perto as californianas do The Donnas(USA). Difícil descrever o nível de beleza e simpatia das gurias. E elas mandaram ver, com seu repertório punk rock presente em sete álbuns lançados ao longo de sua profícua carreira. O público ficou encantado com a energia das meninas e depois de vários petardos ainda foi “presenteado” com “Take It Off” para encerrar em grande estilo. Houve quem dissesse que esperava mais. Mas uma coisa é certa, gostando ou não, ninguém conseguiu sair do Armazém Hall antes do show terminar. E o chão ficou repleto de baba.
Foi assim a maratona de shows do primeiro dia do Festival Dosol, empolgante, quente, difícil de superar. Agora é tirar a camiseta preta do varal e se preparar para a segunda noite. Lembrando ainda que 12 e 13 de novembro tem mais Festival DoSol Música Contemporânea.
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