segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

STELLA-VIVA(PR) LANÇA EP



Conteúdo: Trama Virtual
Neste bom ano de EPs nacionais (basta observar a safra, com Holger, Je Rêve de Toi, vários outros), um dos lançamentos mais desafiadores é o 4 Canções, dos curitibanos do stella-viva.

Eles são daquelas bandas que não se contentam com as composições médias, parecem estabelecer sua obra de acordo com padrões muito rígidos de - tiremos a palavra “qualidade” do dicionário de uma vez por todas – tesão estético. Tudo que você escuta em 4 Canções é de certa forma arrebatador – da duração hipnótica de “Oferenda” aos caminhos melódicos improváveis de “Sempre se Ferem”.

Exatamente para nosso programa Radiola, pela TV Cultura, tivemos que elaborar a seguinte frase para ir ao ar: “Os paranaenses fazem um rock de vanguarda bastante particular. Neste EP, apresentam 4 belas músicas, com letras intimistas e melodias imprevisíveis. É como se o math rock americano tivesse nascido nos anos 70, em Minas, na esquina de Milton Nascimento e do Som Imaginário”.

Talvez não haja melhor maneira mesmo de descrever o som desses jovens que representam a nova cena de Curitiba em toda sua permissividade para o novo, para o livre (nesse momento, quem sabe o emprego do adjetivo “floral” também fosse fiel à idéia primaveril e delicada que percorre todo o EP).

Como já foi escrito em matérias anteriores, há um núcleo de umas 15 bandas (veja na entrevista) que, sabemos, interagem, participam das gravações e dos shows umas das outras. O ponto-chave é que são bandas (basta olhar as reportagens dos últimos dias, com destaques de apelo mais eletrônico) bem diferentes entre si. Que, parece, configuram mais um estado de liberdade, ou a vontade de um, do que uma “cena” em exato.

Mais sobre tudo isso aqui embaixo, na entrevista que a banda recentemente nos cedeu:

De onde nasce, historicamente (na música, ou além), o som de vocês?
Nossa sonoridade vem da espontaneidade com que tocamos nossos instrumentos. Da maneira como lidamos com aspectos tais como técnica, perícia, virtuosismo, que na verdade não leva nenhum deles em consideração. Não há uma preocupação com onde vamos chegar. Nós simplesmente vamos tocando e pondo um pouco mais de nós mesmos a cada vez que tocamos ou ensaiamos as nossas músicas. E, é claro, vem também de nossas vivências, experiências, emoções cotidianas, visões pessoais do mundo e das coisas que nos cercam.

Ele estaria situado em qual, ou em quais, "anos" exatamente? É de 73, via Clube da Esquina? De 2008?
Achamos mesmo que somos uma banda contemporânea. De hoje. De agora. Às vezes podemos soar mais assim ou mais assado, mas estamos mesmo exercitando nossas aptidões como indivíduos do nosso tempo. Pessoas que têm o privilégio de viver no século 21, em que se pode visualizar o que as tradições culturais já afirmaram e recombinar esses signos todos ao nosso bel prazer. Mas sim, admitimos o saudosismo.

Como articular tantas linhas, tantas tensões, e mesmo assim fazer... "Canções", canções de fato?
As composições não vêm de um estudo consciente, não é nada matemático; é questão de sorte. São idéias, brincadeiras, imagens que por ventura funcionam entre nós.

Falem sobre como nasceu cada música do EP
"Um frevo" é uma tentativa de dignificar a sensação de pós-carnaval com cheiro de mijo, cerveja, suor e eucalipto de ruas lavadas, já na ânsia do próximo. Isso tudo dito como uma evocação aos velhos tempos da folia.

"Sempre se ferem" foi composta numa época que o dia e a noite não tinham qualquer contraste. Aí veio a conclusão óbvia, que isso não teria como durar muito. Certas coisas fogem ao nosso controle, ainda bem.

"Vai, vai" surgiu da alegria de saber que o barulho que a guitarra estava fazendo naquele dia não era de um defeito da guitarra, e sim das ondas eletromagnéticas vindo de um televisor. Aí surgiu a questão da esperança.

"Oferenda" foi aumentando de tamanho à medida que foi fazendo aniversários e sentido. É como "Strawberry Fields" ou "Ponta de Areia" (Milton Nascimento), todo mundo tem a sua. Será?

E essa turma de Curitiba aí? Quais são os laços, quais são as motivações?
Nesse exato momento acompanhamos um processo de profissionalização por parte de algumas bandas aqui. São pessoas que têm uma relação muito séria com a arte que produzem. Os laços transcendem estilos ou similaridades estéticas, e são dados pelo comprometimento com a música, que aqui felizmente é plural. Essa é a motivação, poder ir aqui do lado e assistir um show dos nossos pares com uma estrutura digna e um público cada vez mais presente.

A produção daqui está saindo da cidade, cada vez mais. Estamos nos colocando no mapa. Porém, Curitiba é só uma coincidência, como qualquer encontro.

referência do título é uma música de Lô Borges, de 1979

Nenhum comentário: